Coordenação:
Maria do Carmo Soares de Freitas
Equipe da Pesquisa:
Maria do Carmo Soares de Freitas
Elizeu Clementino de Souza
Mirella Dias Almeida
Lilian Ramos Sampaio
Ligia Amparo da Silva Santos
Gardênia Vieira Fontes
José Angelo W. Góes
Adriana Melo; Flavia Leis
Sara Mota
Kênia Lima
Janaina Paiva
Franklin Demétrio
Aisi Anne Santana
Resumo:
Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa sobre a cultura alimentar no cotidiano dos adolescentes da quarta série escolar, em quatro escolas públicas na área metropolitana de Salvador. A diversidade de informações, entre o discurso sobre alimentação na instância oficial e as muitas possibilidades de outras inscrições sobre o tema, dentro e fora da escola traz uma abertura para redefinir hábitos, tradições e crenças no campo da alimentação nos contextos socioculturais estudados. O presente trabalho propõe compreender significados da alimentação (programa ou não), a partir do diálogo com escolares, professores e funcionárias que preparam a alimentação nas escolas. A pesquisa de abordagem qualitativa utiliza como técnicas, a observação participante e a análise de significantes das narrativas destes personagens seguindo um roteiro semi-estruturado para entrevistas e focalizando critérios de aceitação, rejeição, descrição da alimentação oferecida, entendimento desta e de outros alimentos procurados na proximidade da escola. Os escolares reproduzem, em meio às suas dificuldades econômicas, as tradições, representações sociais e símbolos em relação ao alimento e apresentam a necessidade e a obrigação como significados associados à carência alimentar. Esta é a resposta mais evidente do comer e que se mescla com os objetivos do programa de alimentação, mesmo que este não corresponda ao desejo do consumidor escolar. A necessidade aparece como um sentido em que comer e estudar são termos inseparáveis. O programa de alimentação escolar como parte integrante das atividades da escola é entendido por professores e funcionárias, como uma dádiva e não um direito do aluno; pelo escolar como uma obrigação que se assemelha a uma matéria curricular. Observa-se que não há entendimento da real aceitabilidade do alimento e das referências culturais do comer por agentes que coordenam o programa. A não aceitação do alimento é julgada por professores, como a negação da dádiva pela falta de reconhecimento do aluno da contribuição do Estado em atendimento à sua necessidade biológica. A instância moralista que atribui o alimento como dádiva é mais valorizada por professores do que as noções biológicas. A obrigatoriedade da imposição de qualquer cardápio aos escolares revela que professores e também funcionárias que preparam a alimentação, entendem que os escolares são passivos ou fáceis de adestrar suas sensações. A noção da perda do desejo ou do gosto em si, dos que não têm outro recurso para se alimentar é uma ilusão. Muitas vezes, os alunos jogam fora o alimento ou dizem sentirem-se mal. Há uma tendência maior à recusa e ao crescimento do desejo em procurar fora da escola a autonomia e a liberdade de comer.
Financiamento:Ministério da Saúde
Equipe de trabalho do Centro Colaborador de Alimentação e Nutrição do Escolar da Escola de Nutrição da Universidade Federal da Bahia
Participantes do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Alimentação e Cultura – NEPAC da ENUFBA